segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Pesquisa mostra como braço de dinossauros evoluiu para asa de aves

Descoberta encerra longo debate sobre a evolução dos punhos dos dinossauros

Archaeopteryx, espécie intermediária entre os dinossauros e as aves (Dorling Kindersley/Getty Images/VEJA)

Usando uma técnica inovadora desenvolvida por um estudante brasileiro, pesquisadores da Universidade do Chile encerraram uma longa controvérsia científica e desvendaram como os braços dos dinossauros evoluíram para asas em aves. Embora se saiba que as aves evoluíram a partir dos dinossauros, uma adaptação crucial para o voo continuava a intrigar biólogos evolutivos. Ao longo de milhões de anos, os punhos dos dinossauros ficaram mais curvos e flexíveis, evoluindo até que as aves pudessem dobrar as asas quando não estão voando.
A maneira como isso aconteceu, no entanto, sempre foi tema de debates longos e acalorados, com discordâncias substanciais entre biólogos do desenvolvimento — que estudam os embriões das aves em crescimento — e paleontólogos, que estudam os fósseis de dinossauros. Dos nove ossos dos punhos dos dinossauros, restaram apenas quatro nos pulsos das aves no curso da evolução. Para os cientistas, essa redução foi central na transformação evolutiva que levou ao surgimento das asas. Mas biólogos do desenvolvimento e paleontólogos discordavam quanto à correspondência entre ossos específicos de dinossauros e de seus descendentes emplumados.
O novo estudo, publicado no periódico PLOS Biology, supera o impasse. A equipe coordenada por Alexander Vargas, da Universidade do Chile, reexaminou diferentes fósseis de répteis provenientes de coleções de museus de vários países e analisou embriões de sete diferentes espécies de aves modernas.
Inovação — Para comparar os dados, os cientistas tiveram de superar um obstáculo. Os marcadores fluorescentes, usados para observar o conjunto de ossos dos punhos das aves, não se mostraram eficientes, porque os esqueletos dos embriões são predominantemente feitos de cartilagem, tecido pouco permeável e recoberto por pele e músculos. Para contornar o empecilho, o estudante brasileiro João Francisco Botelho, coautor do artigo, desenvolveu uma nova técnica que permitiu estudar os esqueletos embrionários.
"A técnica que introduzi permitiu aumentar a penetração dos reagentes e a transparência do tecido. Assim, aplicando marcadores de diferentes proteínas produzidas na cartilagem precoce, foi possível acompanhar em detalhes o desenvolvimento dos ossos no pulso das aves", declarou Botelho.
Combinando dados inéditos sobre as transformações nos esqueletos dos embriões às informações obtidas na extensa pesquisa com fósseis de dinossauros especialmente bem conservados, os cientistas deram um passo crucial para desvendar como evoluíram os punhos das aves. "O cruzamento dos dados permitiu compreender a complexa história evolutiva de fusões, perdas e reaparições dos ossos do punho durante a transição dos dinossauros para as aves", disse Botelho.
Confirmação — Uma das controvérsias mais emblemáticas solucionadas pelo estudo tem relação com o chamado osso semilunar. Na década de 1970, John Ostrom, da Universidade Yale, levantou a hipótese de que os pulsos de aves e dos dinossauros mais próximos delas tinham um osso muito similar, em forma de meia-lua - resultado da fusão de dois ossos presentes nos dinossauros. A partir dessa hipótese, Ostrom fundamentou o argumento, na época controverso, de que as aves descendiam de dinossauros. No entanto, os biólogos do desenvolvimento fracassaram para confirmar essa hipótese, o que levantou dúvidas até mesmo sobre se as aves vieram mesmo dos dinossauros.
Os novos dados obtidos pelo laboratório de Alexander Vargas revelaram a primeira evidência na biologia do desenvolvimento de que o semilunar das aves era formado de fato da fusão de dois ossos de dinossauros. "Víamos claramente que o semilunar — que funciona como uma polia e é importante para o voo — era resultado de uma fusão de dois ossos dos dinossauros. Mas só com a nova técnica de marcadores de cartilagem pudemos demonstrar esse fato, reafirmando o parentesco entre aves e dinossauros", disse Botelho.

Sudeste, rumo à desertificação

O sudeste do Brasil, parte da região central e do sul caminham para se tornar desérticas. A seca registrada este ano na porção centro-sul, principalmente em São Paulo, está ligada a permanente e acelerada degradação da floresta amazônica. O transporte de umidade para as partes mais ao sul do continente está sendo comprometida, pois além de sua diminuição é trazido partículas geradas nos processos de queimadas que impedem a formação de chuvas.
Os cientistas do (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) há mais de uma década fizeram esse alerta, que a cada ano está pior e mais grave. E coloca em confronto o modelo econômico agropecuário, baseado em commodities, com a área mais industrializada, produtiva e rica do país. E também a mais urbanizada e detentora de 45% da população brasileira e abrigada em apenas 10,5% do território nacional.
O cientista e doutor em meteorologia do Inpe, Gilvam Sampaio de Oliveira, a situação é preocupante e bem mais grave do imaginado em relação a eventos extremos. A comunidade científica está surpresa com a dinâmica das alterações do clima. O número de desastres naturais vem crescendo. Entre 1940 e 2009 houve uma curva ascendente de inundações e o número de dias frios, principalmente em São Paulo, está em franca decadência.
“As questões que já estamos passando, como essa seca, eram projetadas para daqui há 15 ou 20 anos. A área de altas temperaturas está aumentando em toda América do Sul. Em São Paulo e São José dos Campos, por exemplo, há um aumento de chuvas com mais de 100 milímetros concentradas e períodos maiores sem precipitação alguma. E quanto mais seca a região, aumenta o efeito estufa e diminui a possibilidade de chuvas”, alertou o cientista.
O sistema principal formador do ciclo natural que abastece a pluviometria do sudeste começa com a massa de ar quente repleta de umidade, formada na bacia do Amazonas, seguindo até os Andes. Com a barreira natural, ela retorna para a porção sul continental, o que decreta o regime de chuvas.
A revista científica Nature publicou em 2012 um estudo inglês da Universidade de Leeds. O artigo apresentou o resultado de um estudo no qual os mais de 600 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica perdidos desde a década de 1970, e com o avanço do desmatamento seguido de queimadas cerca de 40% de todo complexo natural, estará extinto até 2050. Isso comprometerá o regime de chuvas, que seriam reduzidas em mais de 20% nos períodos de seca.
Faixa dos desertos
O sudeste brasileiro está na faixa dos desertos existente no hemisfério sul do planeta. Ela atravessa enormes áreas continentais, como os desertos australianos de Great Sendy, Gibson e Great Victoria, na plataforma africana surgem as áreas desertificadas da Namíbia e do Kalahari e na América do Sul, o do Atacama. Sem qualquer coincidência, ambos desertos africanos, inclusive em expansão, estão alinhados frontalmente, dentro das margens latitudinais, com as regiões dos Estados do Sudeste e do Sul do país.
Essa porção territorial só se viu livre da desertificação com o êxito da Amazônia e a formação da Mata Atlântica. Ambas foram determinantes para se criar um regime de chuvas que mantiveram essas partes do Brasil e da América do Sul com solos férteis e índices pluviométricos mais que satisfatórios à manutenção da vida.
O geólogo do Inpe  e assessor da Agência Espacial Brasileira (AEB), Paulo Roberto Martini,  tem sua teoria para esse fenômeno. Na qual a desertificação destas regiões ocorrerá se o transporte de ar úmido for bloqueado ou escasseado, por ação natural ou antrópica. Exatamente o que vem acontecendo. As investigações geomorfológicas já mostraram que entre os anos 1000 e 1300 houveram secas generalizadas e populações inteiras desaparecerem nas Américas. E isto pode ocorrer novamente, agora potencializado pela devastação causada pelo homem.
“Esse solo da região Sul e Sudeste tem potencial enorme para se tornar deserto, basta não chover regularmente. A distribuição da umidade evitou que essa região da América do Sul fosse transformada num imenso deserto”, explicou Martini.
Segundo o pesquisador, no fim do período glacial, por volta de 12 mil anos, a cobertura do Brasil teria sido predominantemente de savana, como na África, pobre em diversidade e formada por gramíneas e poucas espécies arbóreas. O que ainda é encontrado no interior de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e no Mato Grosso. Entretanto, a umidade oceânica associada à amazônica possibilitou a constituição da Mata Atlântica e seu ingresso continente adentro.
A penetração da flora em áreas de campo realimentou o ciclo das chuvas, nível de umidade das áreas ocupadas e a fertilização do solo. Em milhares de anos formou-se um vasto complexo florestal, atualmente reduzido a menos de 5% de seu tamanho original na época do descobrimento.
“Há uma cultura de degradação e falar em restauração das matas no Brasil é ficção. Só se produz água quando se faz floresta, a sociedade tem que reagir a isso”, observou o dirigente da entidade SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani.
As pesquisas mostram que o povoamento vegetal no que é hoje o território brasileiro teria começado pela costa do Oceano Atlântico, seguindo para o interior ao longo das várzeas dos rios, onde se encontram os solos mais ricos em nutrientes. Foram milhares de anos neste ritmo, o que induziu diversos especialistas a defenderem a tese de que a Mata Atlântica esteve intimamente ligada a Floresta Amazônica, pois ambas detém diversas semelhanças em seus ciclos sazonais e em espécimes de fauna e flora.
Mas com a derrubada desta proteção vegetal e o encurtamento do ciclo de chuvas oriundas do mega sistema amazônico, as mudanças climáticas ganharam impulso e têm causado alterações no desenvolvimento de diferentes culturas agrícolas, entre elas milho, trigo e café com impactos imensos na produção brasileira e norte-americana. A avaliação partiu dos integrantes do Workshop on Impacts of Global Climate Change on Agriculture and Livestock , realizado em maio na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP).
Júlio Ottoboni é jornalista diplomado e pós-graduado em jornalismo científico.
Fonte: Envolverde

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Diversidade genética em áreas restauradas de Mata Atlântica surpreende pesquisadores

29/08/2014

Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Ao comparar a diversidade genética vegetal de três remanescentes florestais de Mata Atlântica com a de duas áreas em processo de restauração, todas no interior de São Paulo, pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) não observaram diferença significativa na maioria dos parâmetros analisados.
Apenas em termos de riqueza alélica (número de alelos diferentes para uma mesma região do genoma) e de riqueza de alelos privados (exclusivos de uma determinada população) as porcentagens encontradas nas áreas nativas foram maiores em relação às reflorestadas.
A análise, realizada com apoio da FAPESP, foi centrada em quatro espécies com potencial fitoterápico: araribá (Centrolobium tomentuosum, anti-inflamatório e anti-leishimania), cabreúva (Myroxylon peruiferum, antibiótica e analgésica), guaçatonga (Casearia sylvestris, anticancerígena) e pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha, antioxidante).
Os dados foram apresentados pela pesquisadora Maria Imaculada Zucchi, da APTA, durante a 7ª Reunião de Avaliação do Programa BIOTA-FAPESP, realizada em São Paulo no dia 7 de agosto.
“A diversidade genética está diretamente relacionada com a longevidade de uma população e com a sua capacidade de evoluir em resposta a mudanças ambientais. No entanto, há algumas décadas, os projetos de restauração foram implantados com alta diversidade interespecífica [muitas espécies diferentes], mas pouca ou nenhuma atenção foi dada à diversidade intraespecífica [sementes oriundas de poucas matrizes de cada espécie]. Por esse motivo o resultado do estudo nos surpreendeu”, disse Zucchi.
O uso de sementes coletadas de um pequeno número de matrizes, explicou a pesquisadora, pode restringir a base genética nas áreas de restauração florestal, resultando em uma população constituída de plantas aparentadas.
“Inicialmente, não se observa nenhum problema. Contudo, ao chegar à fase reprodutiva, haverá grande número de cruzamentos entre indivíduos aparentados, causando a endogamia e podendo aumentar a frequência de alelos deletérios ou letais nessas populações, levando-as à diminuição ou ao declínio”, explicou Zucchi.
Outra consequência da utilização de plantas com base genética restrita em áreas de reflorestamento é o chamado “efeito fundador”, ou seja, o estabelecimento de uma nova população formada por um pequeno número de genótipos.
Para verificar se áreas reflorestadas de São Paulo estavam sofrendo com esse fenômeno, os cientistas da APTA e alunos do programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) coletaram amostras das quatro espécies fitoterápicas na região de Cosmópolis, em processo de restauração há 54 anos, e em Iracemápolis, em restauração há 24 anos.
Também foram feitas coletas nos remanescentes da Estação Ecológica de Caetetus, ligada ao Instituto Florestal e situada na região de Gália; na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Tietê (UPD-Tietê), da APTA; e na Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Mata de Santa Genebra, no município de Campinas.
Ao todo, foram coletadas 414 amostras de araribá, 182 de cabreúva, 546 de guaçatonga e 394 de pau-jacaré. Desse total, foram selecionadas 20 matrizes produtoras de sementes de cada espécie com o intuito de estudar a taxa de cruzamento. O passo seguinte foi fazer a extração de DNA das amostras, a genotipagem – por um método semelhante ao usado nos testes de paternidade humanos – e o cálculo das frequências dos diferentes alelos encontrados.
De acordo com Zucchi, não houve diferença significativa entre as áreas estudadas na maioria dos parâmetros de diversidade genética – que leva em conta vários fatores populacionais como, por exemplo, o número de indivíduos heterozigotos encontrados.
Uma diferença pequena foi encontrada nas porcentagens de riqueza alélica. No caso da guaçatonga, os números foram 64% nas áreas naturais e 36% nas áreas restauradas. Para a cabreúva, as porcentagens foram de 54% e 46%, respectivamente. Para o araribá, foram 52% e 48% e, para o pau-jacaré, 56% e 44%.
Os pesquisadores também compararam os valores dos chamados alelos privados – aqueles que são exclusivos da população estudada. Nesse caso ficou mais evidente a discrepância entre áreas sendo que, para a guaçatonga, as porcentagens foram 92% nos remanescentes em relação a 8% nas áreas restauradas. No caso da cabreúva, as porcentagens foram 74% e 26%, respectivamente. Para o araribá foram 70% e 30% e, para o pau-jacaré, 68% e 32%.
Uma possível explicação para a pouca variação nos parâmetros de diversidade genética seria a ocorrência de fluxo de genes de remanescentes para as áreas reflorestadas próximas – processo que, segundo Zucchi, ficou evidente ao analisar os dados da cabreúva.
“Os indivíduos jovens das áreas restauradas possuíam alelos que não eram comuns aos indivíduos adultos da mesma área, mas eram semelhantes aos alelos encontrados em adultos de remanescentes florestais próximos, sugerindo a ocorrência de fluxo gênico da área natural para a restaurada”, comentou a pesquisadora.
O estudo da taxa de cruzamento mostrou que as espécies estudadas apresentam sistema misto de cruzamento, ou seja, podem tanto se autofecundar (autogamia) quanto cruzar com outros indivíduos da mesma espécie (alogamia). A exceção foi o araribá, que apresentou tendência à alogamia.
“Ao elaborar um projeto de conservação, uma das primeiras coisas a serem estudadas é a taxa de cruzamento, para entender como as espécies se reproduzem. Isso é importante, por exemplo, para calcular quantas matrizes diferentes serão utilizadas em uma determinada área a fim de garantir a diversidade genética necessária”, explicou Zucchi.
Genômica populacional
Nas últimas décadas, segundo Zucchi, a restauração florestal deixou de constituir o simples plantio de árvores para recobrir uma área desmatada, transformando-se na ciência que visa a reconstruir interações ecológicas complexas em comunidades vegetais degradadas pelas ações antrópicas.
Em artigo publicado no Journal od Biotechnology and Biodiversity, pesquisadores da APTA e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) discutem como os conceitos de genética de populações podem contribuir para tornar as políticas de restauração ainda mais eficientes.
“Indicadores de diversidade genética de populações, associados a outras ferramentas de conservação, são importantes para que consigamos implantar áreas reflorestadas com os níveis mínimos de riqueza alélica e de diversidade genética, que auxiliarão a conexão de remanescentes naturais, restaurando os processos ecológicos e garantindo ecossistemas funcionais, biologicamente viáveis e perpetuados no tempo”, opinou Zucchi.



Usinas de energia solar queimam pássaros em pleno voo nos EUA

Considerada 'energia limpa', energia solar também pode ter impacto.Aves são chamuscadas com o calor dos raios solares refletidos por usina.


Foto de outubro de 2013 mostra pássaro chamuscado encontrado na usina solar no deserto de Mojave, na Califórnia (Foto: AP Photo/U.S. Fish and Wildlife Service)

Usinas de energia solar, conhecidas como alternativas energéticas com menos impacto ambiental, têm queimado pássaros em pleno voo nos Estados Unidos.
Investigadores federais de proteção à vida selvagem que visitaram no ano passado a usina BrightSource Energy, a maior planta solar do mundo, que fica no deserto de Mojave, verificaram que pássaros queimavam e caíam sobre o local, em média, a cada dois minutos.
Agora, esses investigadores pedem que planos de ampliação da usina sejam paralisados até que se possa verificar a extensão total das mortes de pássaros. Enquanto a BrightSource estima que ocorram cerca de mil mortes por ano, um especialista do grupo ambientalista Center for Biological Diversity calcula que ocorram até 28 mil mortes anualmente.
Para Garry George, diretor de energias renováveis da organização ambiental Audubon Society, focada na preservação dos pássaros, as mortes são alarmantes. "É difícil dizer se é a localização ou a tecnologia", diz. "É preciso ter cautela."
As mortes das aves mostram que a busca por uma energia limpa por vezes pode provocar danos ambientais inadvertidamente. Fazendas solares têm sido criticadas também por seus impactos sobre as tartarugas do deserto e os parques eólicos já foram apontados por matar pássaros, inclusive numerosas aves de rapina.
Foto de fevereiro de 2014 mostra alguns dos 300 mil espelhos controlados por computador na usina de
energia solar (Foto: AP Photo/Chris Carlson, file)

"Levamos esse assunto muito a sério", disse Jeff Holland, porta-voz da empresa NRG Solar, de Carlsbad, na Califórnia. Trata-se de uma das três empresas por trás da usina. A outra empresa é o Google.
A usina de US$ 2,2 bilhões, inaugurada em fevereiro, tem por mais de 300 mil espelhos, cada um do tamanho de uma porta. Eles refletem os raios solares em direção a três torres, que se elevam a uma altura de até 40 andares. A água dentro das torres é aquecida para produzir vapor, que aciona turbinas que geram energia elétrica suficiente para suprir 140 mil casas.
Os raios solares refletidos pelos espelhos são brilhantes o suficiente para atrapalhar pilotos chegando ou saindo de Las Vegas e de Los Angeles.
Especialistas afirmam que a usina pode ser uma grande armadilha para a vida selvagem: a luz refletida pelos espelhos atrai insetos que, por sua vez, atraem pássaros que morrem devido aos intensos raios de luz.
Defensores da energia solar estão lutando para evitar que as mortes dos pássaros forcem uma pausa na construção de novas usinas, no momento em que eles veem que a tecnologia está a ponto de tornar-se mais acessível e disponível, de acordo com Thomas Conroy, especialista em energias renováveis.
Para ele, a diversidade de tecnologias  e de fontes energéticas é essencial. "Ninguém deve argumentar que devemos usar só carvão, só energia solar, só energia eólica ou só energia nuclear. E cada uma dessas tecnologias tem uma longa lista de prós e contras."
Usina solar tem capacidade de gerar energia que pode abastecer 140 mil moradias (Foto: Steve Marcus/Reuters)
Fonte: G1

Cientistas consideram extintas três espécies de aves nativas do Brasil

                         Os três pássaros habitavam a Mata Atlântica na região nordeste


Três espécies de aves nativas do Brasil foram consideradas extintas depois de vários anos sem registros em nenhum lugar do país.
As três espécies são o caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum), o gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti) e o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), que tinham como habitat a Mata Atlântica da região nordeste do país.
Figura 1: caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum)
Fonte: http://tolweb.org/Glaucidium/100979

Figura 2: gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti)
(Ilustração: Rolf Grantsau)
Fonte: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/novo-e-ameacado/

Figura 3: limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi)
Fonte: http://leesbird.com/birds-world/fm/furnariidae/


De acordo com estudos realizados pela Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, não existem registros dessas três aves nos últimos anos, o que faz com que elas possam ser consideradas extintas.
No caso do caburé-de-pernambuco, uma pequena espécie de coruja, o último registro oficial que existe é um "canto gravado em 1990", segundo a nota divulgada hoje pelas instituições responsáveis pela pesquisa.
As outras duas aves também não foram avistadas nos últimos dez anos e, por isso, presume-se que estão extintas, disse o cientista Luis Fábio Silveira, da USP.
Entre as possíveis causas do desaparecimento dessas espécies, Silveira citou a degradação do meio ambiente na Mata Atlântica, que possui atualmente apenas 12% de seu tamanho original.
Segundo Silveira, nas áreas do nordeste onde viviam essas três aves houve grande desenvolvimento de indústrias de cana-de-açúcar e outras que elevaram os níveis de poluição e devastaram parte da vegetação, o que põe em perigo outras espécies nativas da região.
"Uma das saídas para evitar a extinção de outras espécies é proteger o que resta da Mata Atlântica através da criação de novas áreas protegidas e corredores ecológicos" que garantam sua sobrevivência, afirmou o cientista.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Obama cria plano para proteger abelhas

O presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou novos esforços para proteger e salvar as abelhas e outros insetos polinizadores. A redução dessas espécies no meio ambiente afeta diretamente o sistema de produção de alimentos. Por isso, o departamento estadunidense de agricultura terá 180 dias para investigar as possíveis causas dessa perda e estabelecer novas estratégias de preservação.
O memorando, emitido pela própria casa branca, exalta a importância das abelhas para a sustentabilidade do sistema de produção. “A polinização das abelhas acrescenta, sozinha, US$ 15 milhões  em culturas agrícolas a cada ano nos Estados Unidos. Ao longo das últimas décadas tem havido uma perda significativa de polinizadores, que incluem: abelhas, abelhas nativas, pássaros, morcegos e borboletas. O problema é grave e requer atenção imediata”, diz o documento.
Um dos objetivos da ação é avaliar os efeitos dos pesticidas sob os polinizadores, já que este parece ser um dos maiores perigos aos insetos. Os inseticidas neonicotinóis, por exemplo, já se mostrarem prejudiciais às abelhas e outros animais.
Barack Obama prevê iniciativas que englobem: pesquisa, preservação ambiental e também ações educativas direcionadas ao âmbito estudantil e corporativo. O presidente quer que departamentos das mais diversas áreas trabalhem em conjunto, direcionando todos os esforços por um mesmo objetivo.

Importância Econômica e Social da Produção e Consumo de Mel



Uma das principais preocupações em relação à biodiversidade é a diminuição das abelhas. Quase todos os estudos indicam que principalmente por causa dos agrotóxicos e outros produtos neonicotinóides e organofosfatos o colapso das colmeias seja um fenômeno mundial. Além destes produtos, outros fatores são citados como possíveis causadores – ácaros, vírus, fungos, manejo inadequado, fenômenos naturais como extremos de frios e estiagens – mas mesmo estes estudos apontam a diminuição da resistência natural e da imunidade das colmeias aos agentes causadores quando expostas a produtos químicos nocivos capazes de alterar o metabolismo e as respostas biológicas individuais ou coletivas das abelhas. Os impactos sobre o meio ambiente e a biodiversidade ainda estão sendo estudados, mas é consenso que por se tratarem de insetos polinizadores a possível diminuição drástica ou desaparição das abelhas causaria uma série de alterações em nichos e habitats de plantas, outros insetos e mesmo outros animais que dependem das cadeias alimentares relacionadas, incluindo-se o mel. As abelhas são responsáveis por 80% da polinização realizada por insetos e três quartos das culturas alimentares dependem deste serviço ecossistêmico.
Entre os animais consumidores de mel e derivados – própolis, geleia real, ceras – estão os seres humanos. Por isto, este artigo pretende dar destaque além do enfoque ambiental, aos aspectos econômicos e sociais da produção e consumo de mel: quem são os produtores, quanto produzem, quais as regiões brasileiras são as principais produtoras, quais países importam e exportam, quem consome, qual a importância na alimentação, quem controla o mercado e outros questionamentos fundamentais a esta atividade econômica. Indispensável destacar, que o mel é um produto diretamente relacionado com os serviços ecossistêmicos e que sua produção não é possível através de processos industriais convencionais.
No Brasil, os principais produtores de mel são pequenos agricultores em que a apicultura soma-se com outras atividades econômicas e a principal região produtora é a Sul com 49% da produção brasileira. Individualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional com 20%, Paraná com 16,2% e Santa Catarina com 12,9%, destacando-se também Minas Gerais e São Paulo. No Nordeste há uma produção significativa: aproximadamente 46 mil apicultores de nove estados nordestinos produzem 40% do mel brasileiro em épocas com índices de chuvas normais. Em todo o país são 350 mil produtores, sendo 90% agricultores familiares com renda anual de até R$ 6.000,00. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2012 a produção brasileira de mel gerou R$ 40 milhões e cresceu 24% nos últimos seis anos. Em volume foram aproximadamente 33.931 toneladas. Em 2011, foram exportadas 22.390 toneladas e o Brasil ficou em 5º lugar entre os exportadores com 4,5%.
Estado
Produção em 2012 (em toneladas)
Rio Grande do Sul
6.774
Paraná
5.496
Santa Catarina
4.388
Minas Gerais
3.398
São Paulo
2.821
Ceará
2.016
Bahia
1.595
Piauí
1.563
Mato Grosso do Sul
820
Pernambuco
635
Total
33.931
Tabela 1 – Principais Estados produtores de mel no Brasil em 2012.
Fonte: Revista Destaque Rural nº 6, página 10.
Na África, os produtores de mel também são pequenos agricultores familiares inseridos em contextos econômicos em que este é fundamental à subsistência. Em muitas regiões, as mulheres cuidam das colmeias, que muitas vezes são móveis para aproveitamento das floradas. A apicultura também diminui as queimadas e além desta produção, existe também a coleta em colmeias selvagens, geralmente para consumo familiar ou de grupos. Neste sentido, o mel no continente africano tem uma grande importância econômica como fonte de energia na dieta e segurança alimentar das comunidades. Mas também existem programas que incentivam os produtores como em Moçambique através da Iniciativa de Terras Comunitárias – ITC e a Fundação Micaia que orienta a assistência técnica e a produção e facilita a comercialização. O Banco Africano de Desenvolvimento – BAD também financia projetos desenvolvidos por associações apícolas. O maior consumidor mundial de mel é a República Centro Africana com 3, 80 kg de consumo anual por habitante em 2009, segundo a FAO. Angola, Etiópia, Moçambique, Quênia e muitos outros países africanos também são grandes consumidores.
Os maiores produtores mundiais são: a China que em 2013 produziu 27,4%, Turquia com 5,5%, Argentina com 4,7%, Estados Unidos com 4,2% do total. A Índia está em quinto lugar com 61 mil toneladas. A argentina até 2012 era a segunda colocada, mas manteve a sua produção de 75,5 mil toneladas. O Brasil está em sétimo lugar e caiu duas posições desde 2011. A produção mundial em 2013 calculada pela Food Administration Organization – FAO foi de 1.59 milhões de toneladas. O número total de colmeias é de 79 milhões, sendo chinesas 11,1 milhões. No Brasil existem divergências: a FAO afirma existirem 1 milhão de colmeias e a produção em 2013 de 33,5 mil toneladas, mas as associações de apicultores calculam em 1,7 milhões de colmeias e produção de 50 mil toneladas para o mesmo ano.
Os principais consumidores, além dos países africanos, são os asiáticos e do Oriente Médio como Kuwait, Irã e Emirados Árabes, inclusive em muitas destas regiões o mel está relacionado com aspectos e representações sociais culturais e/ou religiosas. Os países europeus também são grandes consumidores e importam a maior parte de várias regiões e países produtores. A Grécia é o segundo consumidor mundial com 1,5 kg de consumo anual por habitante em 2009. Alemanha, Portugal, Espanha, França e Reino Unido são os principais consumidores. Na Oceania, a Nova Zelândia e a Austrália destacam-se na produção e consumo deste alimento.
País
Consumo (kg/habitante/ano) – Em 2009
República Centro Africana
3,80
Grécia
1,5
Angola
1,40
Nova Zelândia
1,00
Turquia
1,10
Alemanha
0,90
Portugal
0,70
Espanha
0,70
Austrália
0,60
Irã
0,60
França
0,60
Reino Unido
0,60
Estados Unidos
0,50
Canadá
0,70
Uruguai
0,60
Irlanda
0,30
Japão
0,30
Kuwait
0,20
México
0,30
China
0,20
Brasil
0,10
Argentina
0,10
Tabela 2 – Principais consumidores mundiais de mel em 2009 segundo a FAO
Fonte: Revista Destaque Rural nº 6, página 9.
Portanto, o mel e seus derivados têm uma importância fundamental em várias regiões geográficas do planeta, assim como internamente ao país e para muitos Estados produtores. Além dos aspectos econômicos relacionados com a sua produção, distribuição, comercialização, geração de trabalho e renda interna ou externa às regiões e áreas produtoras, o seu uso como alimento e fonte de energia em muitos lugares em situação de vulnerabilidade econômica, social e alimentar é essencial a estas comunidades. Também sua produção estimula a cooperação entre os produtores, geralmente pequenos agricultores familiares que se associam para garantirem melhores condições, inclusive de preservação das áreas e plantas essenciais às abelhas. Um impacto sobre a saúde das colmeias terá consequências imediatas na disponibilidade mundial deste produto, assim como de outros alimentos que necessitam da polinização realizada por estes insetos.
Referências:
- Especismo e ecocídio: o sumiço das abelhas. José Eustáquio Diniz Alves. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2013/09/18/especismo-e-ecocidio-o-sumico-das-abelhas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
- Estudo mostra que pesticidas neonicotinóides e organofosfatos afetam o cérebro das abelhas. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2013/03/28/estudo-mostra-que-pesticidas-neonicotinoides-e-organofosfatos-afetam-o-cerebro-das-abelhas/
- Desordem de colapso das colônias (Colony Collapser Disorder, CCD) derruba exportações de mel do Brasil. Janara Nicoletti. Disponível em:http://www.ecodebate.com.br/2013/09/10/desordem-de-colapso-das-colonias-colony-collapse-disorder-ccd-derruba-exportacoes-de-mel-do-brasil/
- Sinal de alerta. Fabiana Rezende. Revista Destaque Rural, ano I, nº 6, páginas 8-10, maio-junho/2014, Editora Riograndense. Tapejara/RS.
Antonio Silvio Hendges, Articulista no Portal EcoDebate, professor de Biologia, pós graduado em Auditorias Ambientais, assessoria em sustentabilidade em educação ambiental – www.cenatecbrasil.blogspot.com.br

Fonte: EcoDebate