Dezenas de enfermidades afetam o salmão que se produz no Chile, sendo que várias delas foram introduzidas pelas multinacionais norueguesas, como o vírus ISA. Mas além desse vírus, o salmão (peixe exótico no Chile) é afetado por fungos, ectoparasitas e bactérias. Empresas que operam no Chile estão enviando ao Brasil salmão com lesões na pelo, no qual seria rejeitado em qualquer outro mercado dos EUA, Europa e Japão. Estaria o Brasil consumindo o refugo do salmão produzido no Chile?
Santiago, 06 de março de 2014. (Radiodelmar.cl) - O Serviço Nacional de Pesca do Chile (SernaPesca) confirmou que as autoridades sanitárias do Brasil rejeitaram remessas de salmão no Chile para apresentar "condição desagradável" e "lesões de pele".
Assim afirmou ao jornal "La Tercera" a subdiretora de Comércio Exterior do Sernapesca, Cecília Solís, que referiu aos problemas que enfrentam as empresas chilenas e multinacionais que exportam salmão desde o mar austral sul do Chile ao Brasil.
Atualmente o Brasil consome entre 25% e 30% da produção do Salmão do Atlântico, que é a principal espécie cultivada no Chile. E esta espécie é a que especialmente mais evidencia e apresenta enfermidades, principalmente àqueles que se referem à superlotação, causada pelos empresários a fim de promover os processos de engorda nos peixes.
O Salmão do Atlântico está sujeito a vírus, fungos, ectoparasitas e bactérias, dentre outros agentes patogênicos. Entre as mais conhecidas estão o Vírus da Anemia Infecciosa do Salmão (Vírus ISA), furunculose, a Enfermidade Rickettsial do Salmão (SRS) e os piolhos do salmão (Caligus).
Segundo Cecilia Solís, do Sernapesca, "as autoridades brasileiras estão questionando a entrada de algumas remessas de salmão porque vão com lesões na pele, porque no Chile há SRS". Ela explica, ainda, que a legislação do Brasil prescreve que os produtos não devem conter "condições indesejáveis", e por isso muitas vezes os inspetores rejeitam esse tipo de peixe que contém lesões. No entanto, assegura que apesar das feridas na pele, esse salmão não presetam um risco para a saúde e afirma que isso não pode se transformar numa dificuldade de comercialização do peixe, pois a SRS é uma enfermidade endêmica do Chile.
Fonte: Radio Del Mar (tradução livre: Íris Cristina Thomaz Zattoni Magaña).
Para saber mais:
Em águas turvas
Como o risco de doenças nos animais dos quais nos alimentamos levou a indústria a medicá-los mais
Por Nelio Bizzo, professor de metodologia de ensino da Biologia da Universidade de São Paulo
A criação de salmões envolve uma série de procedimentos relativos à reprodução, à alimentação e ao abate de um animal que ganhou grande valor comercial depois de constatadas as propriedades nutricionais das gorduras dos peixes que habitam águas frias. Assim, na década de 1980, ficou claro que os investimentos nesse tipo de alimento seriam altamente rentáveis, e formas de produção com escala industrial deveriam ser desenvolvidas a fim de não abalar os estoques naturais desse peixe.
As águas frias do Hemisfério Norte foram o primeiro destino dos investimentos. Em 1984, a Noruega, sozinha, respondia por dois terços da produção mundial de salmão de cativeiro. Com a crescente demanda dos mercados do Hemisfério Norte, e principalmente após a confirmação da síndrome da vaca louca, que afastou mais consumidores europeus da proteína animal bovina, o crescimento dos investimentos foi explosivo. Naquele ano, o salmão norueguês atingia a ordem de 22 mil toneladas anuais, mas, dez anos depois, em 1994, a produção mundial tinha alcançado nada menos que 444 mil toneladas, quase metade proveniente daquele mesmo país. Se o crescimento da produção do salmão na Noruega foi da ordem de dez vezes em dez anos, o que já é espantoso, no Chile ele foi, no mesmo período, simplesmente vertiginoso, de cerca de mil vezes, atingindo um quarto da produção global, sendo o segundo produtor mundial. Em 2012, a produção foi sete vezes maior, quase igual à da Noruega.
Com um ritmo de crescimento dessa magnitude, evidentemente o espaço disponível para as criações foi sendo cada vez mais disputado e as áreas de confinamento para crescimento e engorda foram ficando cada vez mais próximas. Em 1984, os criadouros noruegueses tinham registrado uma perda significativa, com a mortandade de peixes por anemia. Pouco depois, ficou claro que se tratava de uma infecção causada por um vírus muito semelhante ao da gripe, mas que não oferece risco aos humanos, e que é transmitido pela própria água, pelo contato de tratadores (luvas etc.), além de ser transportado por um pequeno crustáceo parasita que se alimenta de muco. Daí a experiência norueguesa ser mais antiga e recomendar grande distância entre os criadouros, uma vez que não existe tratamento para a doença e os peixes afetados devem ser rapidamente descartados.
O texto O salmão medicado, publicado originalmente em CartaCapital, mostra como existe uma enorme diferença entre as distâncias dos criadouros no Chile e na Noruega. No entanto, a diferença mais gritante refere-se à quantidade de antibióticos que os chilenos permitem atualmente nos criadouros, níveis 36 mil vezes maiores do que os da Noruega. No entanto, no passado, ambos tinham níveis semelhantes, e a diferença hoje verificada tem uma explicação.
Na década de 1980, havia o risco de doenças bacterianas no salmão, em especial as causadas pelos gêneros Aeromonas e Moritella. Por isso, os antibióticos eram largamente usados nas fazendas de todo o mundo, inclusive norueguesas. Em 1989, os criadouros chilenos enfrentaram a súbita epidemia de uma doença desconhecida, provocada por bactérias do grupo das riquétsias, por isso denominada SRS (Salmon Rickettsia Syndrome). Mais de 50% das mortes de salmão em cativeiros chilenos devem-se a essa doença, que também é controlável por meio de antibióticos, dentro dos limites das recomendações internacionais. Os estoques noruegueses não foram contaminados por SRS. A partir de 1993, as doenças causadas por Aeromonas e Moritella passaram a ser controladas eficazmente com o uso de vacinas, dispensando quase totalmente os antibióticos. Isso permitiu que a legislação norueguesa passasse a exigir níveis muito menores dessas substâncias em relação aos anteriormente praticados. Isso, na prática, impediu a importação do salmão sul-americano, que continua sob o risco da SRS, acabando com a concorrência dos peixes chilenos, mais baratos, no sofisticado mercado nórdico. Protecionismo econômico ou rigor sanitário? O início da criação comercial do bacalhau norueguês, que ainda não conta com vacinas, responderá a essa questão.
Fonte: Carta na Escola
O salmão medicado
Para combater vírus e bactérias, os produtores chilenos abusam dos antibióticos, denuncia biólogo
Por Victor Farinelli, de Puerto Montt
O salmão da embalagem em uma das fotos que ilustram este texto foi criado em cativeiro no sul do Chile. Para chegar ao congelador do supermercado, o peixe sobreviveu ao menos a três pragas marítimas disseminadas pelo mar austral chileno e pelos criadouros.
O salmão nasceu, engordou e tornou-se mercadoria nos arredores da cidade de Puerto Montt, considerada a capital salmoneira do Chile. O cativeiro onde viveu é um dos 278 ainda em funcionamento, de um total de 1,2 mil existentes na Patagônia chilena, a maioria paralisada depois de a propagação do vírus ISA causar a primeira grande crise da produção chilena de salmão em meados de 2007. Não é só o ISA a ameaçar um dos principais produtos de exportação do país. Os salmões têm sido atacados pela bactéria SRS e pelo caligus, um parasita conhecido como piolho-do-mar ou piolho-de-salmão.
Hector Kol, biólogo marinho que trabalhou durante 15 anos na pesca de salmão, aconselha a não comprá-lo. “Eu não comeria nada que provenha do mar austral chileno”, sentenciou. Segundo ele, a biossegurança nos cativeiros chilenos é bastante precária, o que explica o fato de a grande maioria estar desativada. Muitos foram abandonados quando houve a disseminação do ISA.
Com fotografias obtidas pela ONG ecológica Pumalín, para a qual trabalha atualmente, Kol demonstra que os cativeiros chilenos estão instalados em golfos estreitos e separados por distâncias irrisórias. Ele reclama: “Na Noruega, maior produtor de salmão do mundo, a distância mínima entre um cativeiro e outro é de 25 quilômetros, mas no Chile, segundo maior, essa distância pode ser de 40 metros, ou há cinco ou seis cativeiros num raio de 1 quilômetro”. Essa situação, segundo o biólogo, favorece a propagação de vírus e bactérias e impede o isolamento dos focos.
Com as epidemias do ISA, da SRS e do caligus, os produtores tiveram de aumentar a quantidade de antibióticos usados para resguardar os cativeiros ainda ativos. Não existe uma lei para estabelecer limites no uso de medicamentos nos criadouros. Um gráfico apresentado por Kol, com dados recolhidos de relatórios do Serviço Nacional de Pesca do Chile (SernaPesca), mostra que as salmoneiras chilenas utilizam até 732 gramas de antibiótico por tonelada de salmão, enquanto, na Noruega, o máximo permitido é de 0,02 grama, quantidade 36 mil vezes menor. Segundo o biólogo, os cativeiros chilenos são tratados com pesticidas e substâncias abolidas na maioria dos países, e até proibidas em alguns, como a flumequina e o ácido oxolínico.
O maior risco ao ingerir esse salmão disponível no supermercado, diz Kol, é a quantidade de antibióticos utilizada para livrá-lo das pragas, para acabar provocando efeitos também nos consumidores, “o que pode gerar, posteriormente, um sistema imunológico incapaz de responder a um tratamento com antibióticos quando essa pessoa estiver enfrentando suas próprias doenças”.
A Salmón Chile, associação de empresas salmoneiras, contesta as informações de Kol. O uso mais acentuado de antibióticos, informa a associação, só foi adotado durante as crises do vírus ISA, em 2007 e 2010. Posteriormente, a quantidade foi reduzida para menos da metade. O biólogo desconfia da real diminuição do medicamento e afirma que o vírus continua a ser encontrado no mar, assim como a bactéria SRS e o caligus. Tantos males colocam em risco o futuro da produção local, diz. “O salmão chileno não vai durar mais de 15 anos, pois o ISA e o caligus se alastraram de forma incontrolável. É questão de tempo para os últimos cativeiros serem atingidos ou se tornarem insustentáveis economicamente.”
A previsão de Kol contrasta com os números dos produtores e com a quantidade de oferta de salmão no supermercado. No ano passado, informa a Salmón Chile, registrou-se um recorde na produção: 720 mil toneladas. As estimativas para 2013 e 2014 ainda não foram divulgadas e não se sabe se haverá queda no resultado. Em 2007 e 2010, a oferta bruta ficou abaixo das 400 mil toneladas.
O tradicional Angelmó, mercado pesqueiro de Puerto Montt, está vazio. Faltam clientes e diversidade de produtos. Os mariscos disponíveis não são tão abundantes como em outros tempos. Na maioria das peixarias, só se vendem mariscos defumados. O mesmo se passa com os salmões e outros pescados. Sobram os defumados e congelados, uma forma de disfarçar a qualidade do pescado, diz Kol. “Os produtos utilizados pelos cativeiros de salmão afetam todo o mar da região, e têm matado muitas espécies, o que prejudica claramente a atividade dos pescadores artesanais.”
Fora de Angelmó, o cenário é ainda mais desolador. Antigos barcos de pesca foram abandonados, outros passaram a ser usados em passeios turísticos pela baía. Carlos Rengifo, pescador, se conforma: “A atividade turística ainda é o que sustenta este lugar, pois os moradores da região já não compram mais aqui. Os turistas, que vêm para consumir ou para fazer um passeio diferente, também não vão comprar e levar para casa”.
Fonte: Carta na Escola
Anemia Infecciosa do Salmão (ISA) |
A Anemia Infecciosa do Salmão (ISA), é uma enfermidade produzida por um vírus da família Orthomyxoviridae, do gênero Isavirus. A enfermidade clínica afeta a peixes cultivados em água do mar, da espécie Salmo salar (Salmão do Atlântico).
É uma enfermidade com grandes efeitos na produção de salmões, já que provoca alto índice de mortalidade nos grupos infectados. Não causa impactos na saúde pública, já que o vírus não afeta o homem.
Fonte: http://education.expasy.org/images/Isavirus_virion.jpg
A enfermidade foi identificada pela primeira vez na Noruega, nos anos 80. Também foi diagnosticada no Canadá, Escócia, Ilhas Feroe (Dinamarca) e EUA. No hemisfério norte o vírus também foi encontrado em espécies nativas, mas no Chile o vírus ISA foi isolado somente no ano de 2001, no Salmão Prateado.
No Chile o primeiro caso da enfermidade foi reportado oficialmente em 25 de julho de 2007, em um centro de cultivo em Chiloé central, e, a partir desse momento, a enfermidade e o vírus foram detectados em outros centros de cultivos do Salmão do Atlântico, localizados em regiões distintas.
Desde o aparecimento da enfermidade o SernaPesca tem emitido diversas resoluções, com orientações principalmente para estabelecer medidas de contingência em uma primeira instância e de vigilância e controle posteriormente.
Fonte: SernaPesca - Chile
Neste link do UOL há uma sequência de 29 imagens, explicando, de forma resumida, como é a
criação do Salmão:
http://economia.uol.com.br/agronegocio/album/2013/11/13/veja-como-e-a-criacao-de-salmao-em-cativeiro.htm
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