CARL ZIMMER
DO "NEW YORK TIMES"
Alguns biólogos veem os humanos como uma força da evolução. Quando damos antibióticos a pacientes em hospitais, alimentamos a evolução de bactérias resistentes, por exemplo.
Quando pescamos peixes grandes nos oceanos, fomentamos a evolução dos peixes pequenos.
Agora uma bióloga da Universidade de Minnesota, Emilie C. Snell-Rood, descobriu que, ao modificarmos os lugares onde vivem os animais, podemos estar levando seus cérebros a crescer.
Ela baseia sua conclusão numa coleção de crânios de mamíferos conservados no Museu Bell de História Natural, na Universidade de Minnesota. Snell-Rood escolheu dez espécies para estudar, incluindo camundongos, musaranhos, morcegos e esquilos. Selecionou dezenas de crânios coletados até um século atrás.
Uma estudante, Naomi Wick, mediu as dimensões dos crânios selecionados, de modo que foi possível estimar o tamanho dos cérebros dos animais.
Dois resultados importantes emergiram da pesquisa. Em duas espécies --os roedoresPeromyscus leucopus (camundongo-de-patas-brancas) e Microtus pennsylvanicus (rato-do-campo)-- os cérebros dos animais de cidades ou de subúrbios eram aproximadamente 6% maiores que os de animais capturados em fazendas ou em outras áreas rurais.
Snell-Rood conclui que, quando essas espécies se mudaram para as cidades, seus cérebros cresceram de modo significativo. Ela e Wick também constataram que, em partes rurais do Estado de Minnesota, duas espécies de musaranhos e duas espécies de morcegos tiveram aumento no tamanho de seus cérebros.
Snell-Rood propõe que os cérebros das seis espécies cresceram porque os humanos modificaram Minnesota radicalmente. Onde antes havia florestas e pradarias, hoje há cidades e fazendas.
Nesse ambiente modificado, os animais mais capacitados para aprender coisas novas tinham chances maiores de sobreviver e deixar descendentes. Os animais que colonizaram grandes e pequenas cidades aprenderam a encontrar comida em construções e outros lugares que seus antepassados não conheciam.
"Estamos modificando as populações rurais, também", comentou a bióloga. Por exemplo, à medida que as florestas são cortadas para a extração de madeira ou para a agricultura, os morcegos podem ser obrigados a voar mais longe para encontrar alimento e continuar aptos a encontrar o caminho de volta para casa. Também para eles, cérebros maiores podem ter sido úteis.
Cientistas saudaram a pesquisa como o primeiro relato de modificações significativas no tamanho dos cérebros de animais feito fora do âmbito laboratorial. "Os resultados são instigantes e merecem ser acompanhados", disse o biólogo evolutivo Jason Munshi-South, da Universidade Fordham, em Nova York.
Deve ser possível continuar a pesquisa em laboratórios, promovendo o cruzamento de mamíferos rurais de cérebro pequeno com seus "primos" de cérebro maior. Estudando a prole, os cientistas poderão estudar os genes envolvidos na produção de cérebros de tamanhos distintos.
Fonte: Folha de São Paulo
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