quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O casamento da montanha de lixo com o arco-íris


Lixarina, uma linda montanha de lixo, nasceu no dia 25 de dezembro, em plena era dos "fast-foods". Filha do Sr. Consumo e de Dona Perdulária, seu berço foi uma caçamba enferrujada. Os primeiros visitantes foram as lustrosas baratinhas vermelhas e marrons, as cinzentas ratazanas e os lindos urubus.

Logo após uma chuva de verão, Lixarina se apaixonou perdidamente por um arco-íris.Cheia de tampinhas de refrigerantes, latas de cerveja, papéis de presente e garrafas multicoloridas, reluzia esplendorosamente como uma montanha de estrelas.

Um dos desejos de Lixarina era o de ser reciclada o quanto antes - "o destino de todo lixo não é permanecer lixo", pensava. E assim almejava para cada um dos "filhos", partes do seu corpo, um futuro digno e brilhante.

Antes da seletiva separação dos seus componentes, Lixarina imaginava absorver as cores do arco-íris, num casamento universal. Cada cor acompanharia um elemento .Das suas entranhas cederia com prazer, para virar polietileno e outros novos produtos, copos plásticos, embalagens de desinfetantes, brinquedos, mamadeiras, sacolas, enfim, um plástico-sem-fim e tudo embalado na cor VERMELHA. O AMARELO iria junto às latas de cervejas e refrigerantes e outros metais reciclando o alumínio, o ferro e o aço. O AZUL, com os jornais, revistas, caixas de papelão e outros materiais de celulose, virariam novos papéis. O MARROM iria junto com alimentos e restos de vegetais para serem transformados em adubo e novamente devolvidos à terra .E a cor VERDE acompanharia os vidros das garrafas que poderiam ser derretidos ou reutilizados como novas embalagens.

Combinaram o casamento para a manhã seguinte...

No dia, o céu amanheceu nublado, nem chuva, nem sol. Para surpresa da noiva, no lugar do arco-íris apareceu um trator que, sem perda de tempo, espalhou a Lixarina e seus "filhos". Amassou tudo, cobriu com terra, compactou, sepultou. O que era uma montanha virou aterro. Os "filhos" de Lixarina foram adormecidos como peças de museu, quem sabe, testemunhas de uma época para algum sábio do futuro escavar .À tarde choveu e depois veio o sol. O arco-íris-noivo chegou e nada encontrou. Compreendeu...Deitou-se na superfície plana, como um colorido tapete.Espalhou a cor verde em suprema tranqüilidade e equilíbrio . Doou o azul do trabalho e prosperidade e o amarelo da alegria, do entusiasmo e do raciocínio.A cor vermelha transbordou a vitalidade, a força e a coragem. E o marrom trouxe a fecundidade. Para completar a cor rosa sugeriu o Amor e a beleza e a violeta a transformação. Uma mistura de cores e virtudes. Finalmente, o arco-íris propôs através do branco a paz e a harmonia. Abraçou a terra e alí permaneceu até desaparecer com o sol. Por baixo, compactada e espremida em seus sonhos, Lixarina chorou. Um chorume de fazer dó.


* Lélio Costa e Silva

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