sexta-feira, 15 de março de 2013

Tem bicho demais!

Através deste artigo publicado no jornal "O Globo", verificamos a importância do autor possuir conhecimento prévio do assunto para não serem divulgadas verdadeiras bobagens...!

 
A recente autorização dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) para a caça do javali-europeu em todo o território nacional levanta a lebre sobre um problema mal resolvido em várias regiões do país: o excesso de animais. Estamos acostumados a ler e a ouvir falar de listas enormes que relacionam as espécies ameaçadas de extinção. E as espécies que ameaçam?
 
Para começar, é muito mais simples saber se existem animais de menos do que se eles estão sobrando. Apesar de todos os desafios, o volume de estudos, teses e livros sobre conservação da fauna e da flora, no Brasil e no mundo, é imenso. Se o mico-leão-dourado, por exemplo, que sempre foi um símbolo da Mata Atlântica, deixa de ser visto em vários lugares e os especialistas conseguem contar menos de mil indivíduos, não há dúvida. Eles estão ameaçados e algo precisa ser feito.
 
Mas o que dizer do sagui ou mico-estrela que aparece em quase qualquer árvore da Zona Sul do Rio ou da Tijuca? São muitos, né? Mas será que são demais? Há alguns anos, uma pesquisa feita pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) identificou 200 exemplares de bichos e plantas invasoras. Espécies que foram trazidas de um jeito ou de outro para a cidade e que ameaçam a biodiversidade e a sobrevivência de outras famílias.
 
Na lista, alguns velhos e “inofensivos” conhecidos dos cariocas, como certos peixinhos de aquário, o belo Coral-Sol, o mico-estrela, as jaqueiras e até os gatos, para desespero dos apaixonados pelos felinos. Alguns condomínios da Barra já fizeram campanha e contrataram biólogos para castrar os gatos que ficavam soltos nas ruas. Eles estavam arranhando os carros, comendo os passarinhos e transmitindo doenças.
 
Obviamente, esse tipo de iniciativa gera polêmica e conflito. O professor Silvio Marchini, doutor em Conservação da Vida Silvestre pela Universidade de Oxford, diz que são escassos no Brasil os profissionais qualificados para cuidar desse tipo de problema. Nossa cultura leva à conservação ou à destruição, falta um trabalho consistente de gestão da fauna e da flora.
 
Ele volta ao exemplo do mico-estrela. Os turistas e alguns moradores adoram o bichinho. São comuns as cenas de gente deixando frutas na varanda para alimentá-los. Os profissionais de saúde sabem que eles representam um risco de transmissão de zoonoses. Já os biólogos se assustam com o impacto que eles representam. Esses saguis fofinhos, além de banana e mamão, adoram comer filhotes de passarinhos e atacam os esquilos. E eles não têm um predador natural por aqui.
 
O professor explica que nos Estados Unidos e em alguns outros países do mundo, a gestão da fauna é um curso de graduação antigo. Um profissional que reúne conhecimentos de biologia, sociologia e relações humanas. Uma espécie de diplomata da biodiversidade, com capacidade para gerenciar interesses bastante conflitantes. Como os casos dos gatos da Barra, dos saguis de Ipanema ou das onças-pintadas.
 
Aliás, este é um caso complexo. A onça-pintada é um animal ameaçado de extinção, aparece em várias campanhas de conservação. No entanto, quando ela surge no quintal de uma casa ou come o bezerro de uma fazendo, ninguém quer saber quantas existem. Uma cartilha que vem sendo distribuída em escolas da Amazônia e do Pantanal tenta minimizar esse problema. O nome é “Guia de Convivência Gente e Onças”. Ela explica que raramente uma onça ataca se não for ameaçada. E mostra que quando um fazendeiro caça as capivaras e os veados, alimentos naturais das onças, restam poucas alternativas de comida que não sejam os bezerros.
 
O caso dos javalis-europeus é bem mais simples. O próprio Ibama afirma que o abate foi a única saída. Só nos três estados do sul existem mais de 300 mil javalis desse tipo. Eles foram trazidos da Europa para a Argentina e o Uruguai e teriam entrado no Brasil com as próprias patas. Os javalis comem os ovos de espécies nativas, como jacarés e tartarugas, além de destruir plantações e florestas.
 
As razões para esses modernos conflitos entre o homem e a natureza são vários. Vão desde o crescimento das cidades até a globalização. Os micos-estrela, provavelmente, vieram do Nordeste na bagagem de um retirante amigo. Viraram donos do pedaço. Os javalis foram uma boa oportunidade de negócio que se transformou em praga. Os urubus que assustam os pilotos nos aeroportos do país, os quatis que lotam os parques de Belo Horizonte e as capivaras e esquilos que atravessam as ruas sem olhar pros lados serão problemas cada vez mais comuns. Precisamos encontrar um equilíbrio.
 
Fonte: O Globo
 
Nota do Blog:
 
O contexto do artigo é interessante, mas faz afirmações completamente equivocadas:

"Alguns condomínios da Barra já fizeram campanha e contrataram biólogos para castrar os gatos que ficavam soltos nas ruas". (grifo do blog) Biólogos não têm conhecimento, capacitação, tampouco lhes são permitidas atividades envolvendo procedimentos clínicos ou cirúrgicos, que são exclusivas de médicos veterinários. Logo, o profissional que possui qualificação exclusiva para castrar um animal é o médico veterinário, e qualquer outro profissional que assim proceder poderá sofrer sanções administrativas ou, ainda, criminais.

Sobre os javalis: "eles foram trazidos da Europa para a Argentina e o Uruguai e teriam entrado no Brasil com as próprias patas".  (grifo do blog) Os javalis comem os ovos de espécies nativas, como jacarés e tartarugas, além de destruir plantações e florestas". Não sou grande conhecedora do assunto, mas tudo que li até agora ressaltou que existiam / existem criadores de javalis em solo nacional. Além disso, um bicho que pesa mais de 50 kg e inclusive tem a agressividade como uma de suas características, deve ter uma dieta alimentar bem mais abrangente e, consequentemente, trazer mais estragos às outras espécies do que simplesmente comer ovos de tartaruga e jacarés.

É nítido que a pessoa que assinou o artigo não tinha qualificação e conhecimento para falar sobre o tema, e com isso constatamos a importância do jornalista estar a par dos temas que abordará. Logo, informações errôneas como as citadas acima, veiculadas num jornal de grande circulação e credibilidade como O Globo, poderão acarretar diversos prejuízos, razão pela qual os biólogos e profissionais qualificados a localizar os erros do texto tem o dever de alertar  sobre os equívocos apresentados.
 
E por fim, fica a questão: tem bicho demais ou habitat de menos?!

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